Ser Solidário Assim Para Além da Vida
- Csongor Juhos
- Feb 22, 2020
- 3 min read
Por Maria Teresa Sá
A angústia de morte está biologicamente ancorada ao sopro de vida. Que no nosso inconsciente não haja registo de morte é uma matéria insondável, já que do inconsciente pouco sabemos, apesar dos divãs em que o (nos) deitamos. Sabemos que vamos morrer, só não sabemos quando, como ou onde. Pensar na morte, na nossa e na dos outros, é como olhar o sol de frente, e a vida pede que não nos demoremos aí muito tempo. Mas se nada podemos fazer quanto à morte, que por entre a imprevisibilidade da vida é a nossa única certeza, já a situação do morrer e a possibilidade de minorar algum do seu sofrimento, é uma outra coisa.
Morrer inquieta e perturba todos os humanos, expressa o medo de cada um diante do seu fim e diante da perda dos que amamos. É um terror com nome. Algumas vezes, para lá da nossa dor de perda, acontece sermos capazes de sentir de dentro o sofrimento do Outro que nos morre e aceitarmos que ele possa querer pôr fim ao seu sofrimento. O bem que queremos ao Outro torna-se então maior do que a ocupação caseira com a nossa dor, com a insuportabilidade do nosso sofrimento, com a nossa culpa ou com a nossa impotência para o salvarmos e retermos junto de nós. Conferimos-lhe então o direito de decidir de si, da sua vida e da sua morte. Alteridade. Quando assim é, quando assim somos, elevámo-nos na nossa condição humana, ultrapassámos o frágil e duro limiar do nosso Eu, que sempre impede que nos inclinemos verdadeiramente sobre o Outro.

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