Na semana passada surgiu-me um problema menor de saúde. Depois de 40 minutos à espera do médico no hospital vim-me embora irritado e sem ser atendido.
Os meus pacientes não esperam. Têm a sua hora marcada, temos cinco minutos extra para sentarmos, mas começamos sempre à hora marcada.
No consultório, não tenho sala de espera, nunca precisei dela. Pode parecer obsessivo, talvez até seja, afinal sou húngaro e nós húngaros temos uma coisa com a pontualidade, mas antes de tudo tomo o tempo com elemento organizador de limites.
Precisamos de limites para nós organizar no espaço e no tempo. Dentro da nossa cabeça e fora no mundo. Entre nós e o outro. Limites. Eu sou eu, tu és tu. Esse é o meu pensamento, aquele é teu. Eu sinto isso, tu o que sentes? Eu sou diferente de ti, sou sujeito. Por vezes, concordamos. Por vezes, não.
Termino as sessões sempre ao mesmo tempo, à hora e 45 minutos. Por vezes é difícil terminar porque ambos, o paciente e eu, sentimos que tanta coisa ficou por dizer. Ou por nos sentirmos vulneráveis naquele momento e custa-nos a separar. Ficar só com a dor.
Mas aprendemos aguardar e usar a tenção do não dito para o elaborar mais. Uma nova sessão haverá.
Aprendemos, pela experiência continua que vivemos, confiar na continuação. Que vai haver uma próxima sessão e o analista lá continuará à espera e vai. E que o paciente voltará.
Aprendemos esperar e tolerar a angústia que a separação naquele momento da intimidade inflige sobre nós.
NOTA CLÍNICA:
— Ohhh Dr! Já pensava que não estava! Estava a tocar a campainha há que tempos e ninguém me abria a porta...
— Chegou 20 minutos antes da sua hora, eu estava ainda em sessão. Mas já não aguentava o barulho ininterrupto da campainha.
— Ohhh,..., peço imensa desculpa! Mas já que cá estou, eu posso esperar. Não me importo.
— Não tenho sala de espera, mas cá a espero na sua hora.
— Aaaa, está bem Dr. então eu tomo um café e já volto.
Após 25 minutos.
— Cá estou Dr.
— Agora veio 5 minutos atrasada.
— Valhe me Deus, o Dr e os tempos..., tenha dó.
— E se pensássemos um pouco sobre o que aconteceu com esses tempos todos baralhados?
— Por mim está bem.
O tempo para além de se organizador é algo que não recuperamos. É um bem precioso.
Nunca mais vou esperar 40 minutos por um médico que não me atende no final. Mas espero pelas pessoas que amo. Mesmo que isso me faça doer. E enquanto espero penso sobre porque me está a doer. Uma análise nunca acaba. Transforma-se em auto-análise.